Câmara derruba decreto de Lula sobre saneamento e impõe nova derrota ao governo

Líder do Planalto na Casa, José Guimarães (PT-CE), chegou a pedir mais tempo para buscar acordo com parlamentares; autor da proposta, deputado Fernando Monteiro disse que procurou a Casa Civil para negociar alterações, mas não teve retorno

Câmara derruba decreto de Lula sobre saneamento e impõe nova derrota ao governo
Projeto de decreto legislativo foi aprovado nesta quarta-feira com 295 votos a favor e 136 contra. - Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O plenário da Câmara dos Deputados impôs uma derrota ao governo Lula e aprovou, na noite desta quarta-feira, 3, um projeto de decreto legislativo (PDL) que derruba os decretos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que alteraram as regras do Marco Legal do Saneamento Básico.

O texto foi aprovado com 295 votos a favor e 136 contra. Agora, o texto segue para o Senado Federal, que precisará se posicionar para que as alterações feitas por Lula deixem de valer. O PDL foi colocado em pauta de última hora, a pedido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sem aviso prévio ao governo, que esperava mais um prazo para convencer os parlamentares a favor do seu decreto, publicado em 5 de abril, que muda regras de saneamento no país.

O líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE), chegou a pedir mais tempo para chegar a um acordo sobre a proposta. “Quero fazer um apelo aos líderes para que nós pudéssemos retirar de pauta esta matéria para que dialogássemos até terça-feira, de um jeito ou de outro, ou votando este PDL ou uma outra solução, nós buscaremos uma solução”, disse.

  

Um dos autores do PDL, o deputado Fernando Monteiro (PP-PE) disse ter tentado negociar com a Casa Civil desde a semana passada, mas que o governo não teria se manifestado. “O silêncio, para mim, muitas vezes fala mais alto, e ele falou mais alto que o governo não queria acordo. Que o governo não queria conversar, queria apenas ganhar tempo”, afirmou.

Além da resposta de Fernando, que apoia o governo federal, a sessão desta quarta escancarou a dificuldade do Planalto em formar uma base sólida de apoio. O líder José Guimarães cobrou publicamente os líderes do PSD e do MDB, contemplados com cargos no primeiro escalão, por terem orientado o voto a favor da derrubada do decreto de Lula.

 

Os decretos de Lula sobre o marco do saneamento desagradaram parte do Congresso Nacional, que já havia aprovado legislação universalizando o serviço de saneamento no país até 2023. Na justificativa para suspender os atos do Executivo, o PDL afirma que o decreto põe em risco a execução do marco regulatório legal, que inclui o tratamento e coleta de esgoto e acesso à água potável, por exemplo.

Entre as mudanças previstas pelo decreto estão permitir a contratação de estatais sem licitação e flexibilizar as exigências financeiras para que as atuais empresas prestadoras dos serviços pudessem ser avaliadas. Mais do que as críticas ao conteúdo do decreto, a cúpula do Congresso se irritou com o fato de as alterações propostas por Lula não terem sido propostas por meio de um projeto de lei. No geral, líderes da Câmara disseram, mais de uma vez, que o presidente da República atropelou as competências do Legislativo.

 

Sequência de derrotas na Câmara

A aprovação do PDL foi a segunda derrota do governo Lula em dois dias na Câmara dos Deputados. Na terça-feira, 2, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), atendeu a um pedido do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) e retirou da pauta de votação o projeto de lei 2630, popularmente conhecimento como PL das FakeNews, apoiado pelo Palácio do Planalto. No plenário, Silva disse não ter tido tempo de apreciar – e incorporar ao seu parecer – as sugestões feitas pelos partidos com os quais se reuniu ao longo da tarde.

O líder do PP na Casa, André Fufuca (MA), afirmou que o colega do PCdoB recebeu cerca de 90 emendas ao texto. A oposição ao governo Lula alega, no entanto, que a retirada de pauta foi motivada pela falta de votos favoráveis à proposta. Nos bastidores, inclusive, uma ala da Câmara diz que, com o movimento, Lira quis passar ao Planalto o recado de que Lula não tem uma base sólida. Esta hipótese é refutada por aliados de Lira, que afirmam que o presidente da Casa está “pessoalmente empenhado” em aprovar uma regulação às plataformas digitais.

 

Autor: Jovem Pan

Link: https://jovempan.com.br/noticias/brasil/plenario-da-camara-aprova-derrubada-de-mudancas-do-governo-no-marco-do-saneamento.html