Plenário do TCE confirma decisão que destravou privatização da Corsan

Maioria dos conselheiros referendou deliberação do presidente da Corte, Alexandre Postal, que liberou conclusão da venda da companhia

Plenário do TCE confirma decisão que destravou privatização da Corsan
Postal (à esquerda) conduziu sessão virtual do pleno acompanhando de assessores - Foto: Vinicius Reis / Tribunal de Contas do Estado

Em julgamento realizado nesta quarta-feira (19), o plenário do Tribunal de Contas do Estado (TCE) referendou a decisão do presidente da Corte, Alexandre Postal, que liberou a assinatura do contrato de venda da Corsan. O placar foi de quatro votos a dois pela validade do despacho, analisado em sessão virtual.

 

Posicionaram-se a favor da manutenção da decisão os conselheiros Marco Peixoto, Iradir Pietroski, Renato Azeredo e Edson Brum, enquanto os conselheiros EstilacXavier e Ana Cristina Moraes se manifestaram contra. Como a decisão que estava sendo julgada foi proferida por Postal, ele não votou.  

 

Já esperada pelo governo do Estado, a vitória no pleno do TCE afasta a possibilidade de reversão da privatização. Caso o despacho fosse invalidado pelos conselheiros, o contrato de venda da estatal ao consórcio Aegea, por R$ 4,15 bilhões, estaria sob risco de anulação.

 

Em paralelo, segue tramitando no TCE o processo que analisa os detalhes da venda da estatal. A ação está sendo julgada pela Primeira Câmara da Corte.

 

Na terça-feira (18), o órgão formou maioria pela anulação do leilão da companhia, realizado em dezembro de 2022, com votos dos conselheiros Ana Moraes e Estilac Xavier. No entanto, a análise foi interrompida por um pedido de vista do terceiro integrante da câmara, o conselheiro Renato Azeredo.

 

Ainda que a deliberação do órgão pela anulação do leilão seja confirmada, a PGE deve recorrer ao plenário do TCE, que terá a última palavra sobre o caso e tende a decidir em favor do governo.

  

Contrato assinado

Alexandre Postal liberou a assinatura do contrato no início do mês, ao suspender uma medida cautelar que estava sob relatoria da conselheira Ana Cristina Moraes. Após o despacho, a conselheira chegou a emitir uma nova cautelar vetando a assinatura do contrato, que também foi derrubada pelo presidente do TCE. Nos dois casos, o conselheiro atendeu pedidos da Procuradoria-Geral do Estado (PGE).

 

Postal suspendeu a segunda cautelar na tarde do dia 7 de julho. Menos de duas horas depois, o governador Eduardo Leite assinou o contrato de venda da companhia, em cerimônia no Palácio Piratini.

 

Além do mérito da decisão do presidente da Corte, foram discutidas na sessão desta quarta-feira controvérsias sobre sua viabilidade jurídica. Postal agiu com base em um artigo do regimento interno do TCE que confere ao presidente o poder de suspender cautelares de outros conselheiros em "caráter excepcional" e "havendo urgência".

 

A situação é inusitada porque o dispositivo não tem precedentes de utilização no TCE. A avocação do artigo foi questionada pelo Ministério Público de Contas (MPC).

 

— O espírito desse inciso do regimento que permite a suspensão é de assegurar a efetividade de jurisdição da Corte, não a de ser usado como sucedâneo recursal como foi — disse o procurador-geral do MPC, Geraldo da Camino.

 

Em sustentação oral, o procurador Victor Herzer da Silva, da PGE, defendeu a competência de Postal para liberar a conclusão da privatização. Herzer lembrou que o Estado solicitou três vezes à conselheira Ana Moraes a revogação da cautelar, mas os pedidos não foram apreciados.

 

— A proposta do leilão só vigorava por 180 dias, e ela foi apresentada no dia 15 de dezembro. Portanto, a partir do dia 16 de junho, a Aegea não estava obrigada a manter a proposta, o que colocava em risco todo o processo com enorme perigo de dano ao interesse público.

 

Contra-ataque

No início da sessão, Postal fez um discurso em que reafirmou sua legitimidade para tomar a decisão que liberou a assinatura do contrato. O presidente do TCE respondeu às manifestações dos conselheiros EstilacXavier e Ana Moraes que, na sessão da semana passada, questionaram seu despacho. Ana chegou a descrever a decisão de Postal como "dependente e parcial".

 

O presidente do TCE disse que as alegações foram "ofensivas e desrespeitosas".

 

— Tenho total convicção de que minha decisão possui legalidade, amparo, fundamentação e segurança jurídica — frisou.

 

Durante seu voto, Ana Moraes disse que Postal interpretou "de forma parcial" os fatos relatados nos autos do processo que analisa a venda da companhia. A conselheira registrou que, além dos pedidos para derrubar a cautelar, também houve solicitações para que o leilão continuasse suspenso.

 

— No meu entendimento, Vossa Excelência continua deixando de analisar o conjunto de petições e provas do processo, apenas tentando induzir em erro os demais julgadores como se houvesse algo de errado nas decisões que tomei a partir da assunção da relatoria (do caso) — disparou.

 

Autor: GZH

Link: https://gauchazh.clicrbs.com.br/economia/noticia/2023/07/plenario-do-tce-confirma-decisao-que-destravou-privatizacao-da-corsan-clka2dz4p0067015l4sddigd8.html