Entidade industrial de Bento Gonçalves diz que trabalho escravo está relacionado à 'falta de mão de obra' e 'sistema assistencialista'

Caso veio à tona quando trabalhadores denunciaram condições de alojamento à polícia. Mais de 200 empregados foram resgatados. MTE afirma que "responsabilidade não é dos trabalhadores".

Entidade industrial de Bento Gonçalves diz que trabalho escravo está relacionado à 'falta de mão de obra' e 'sistema assistencialista'
Trabalhadores "foram flagrados em condições degradantes", segundo a PRF; na imagem, espaço usado como alojamento dos trabalhadores em empresa de Bento Gonçalves. - Foto: Polícia Rodoviária Federal/Divulgação

O Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Bento Gonçalves, na Serra do RS, afirmou em nota que a situação de trabalho semelhante à escravidão descoberta na cidade tem relação com "um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade" que causa "falta de mão de obra" na cidade. A entidade, no entanto, considera a prática "inaceitável" e pede punição aos responsáveis.

O trecho que ganhou repercussão nesta terça-feira (28) foi: "Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade".

O caso veio à tona na quarta-feira (22), quando três trabalhadores procuraram a polícia após fugirem de um alojamento em que eram mantidos contra sua vontade. Uma operação realizada no mesmo dia resgatou mais de 200 pessoas que eram submetidas a trabalho análogo à escravidão durante a colheita da uva.

 

Os trabalhadores foram contratados pela Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, que oferecia a mão de obra para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton e produtores rurais da região. Eles afirmam que eram extorquidos, ameaçados, agredidos e torturados com choques elétricos e spray de pimenta.

 

Ao g1, a presidente do CIC de Bento Gonçalves, Marijane Paese, afirma que a falta de mão de obra é o principal gargalo para desenvolvimento econômico da região e que a entidade promove iniciativas para minimizar o problema.

 

"Sabemos o que aconteceu e queremos que nunca mais aconteça. Não queremos nos eximir do problema, ninguém aqui é solidário com trabalho escravo. Queremos que este movimento [de qualificação de mão de obra e reinserção de trabalhadores no mercado de trabalho] tome força, para que a gente não precise mais usar empresas de terceirizados", diz.

Autor: G1

Link: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2023/02/28/entidade-industrial-de-bento-goncalves-diz-que-trabalho-escravo-esta-associado-a-falta-de-mao-de-obra-e-sistema-assistencialista.ghtml