Espionagem industrial: como a China conseguiu segredos tecnológicos dos EUA

Espionagem industrial: como a China conseguiu segredos tecnológicos dos EUA
Verdadeira extensão da espionagem comercial é desconhecida, mas especialistas dizem que ela é "difundida". - Foto: Getty Images

Zheng é cidadão americano. Segundo acusação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, ele escondeu arquivos confidenciais roubados do seu empregador no código binário da fotografia digital de um pôr-do-sol, que ele encaminhou para si próprio.

 

A técnica é chamada de esteganografia — uma forma de esconder um arquivo de dados no código de outro arquivo. Zheng utilizou a técnica diversas vezes para retirar arquivos sensíveis da GE, um conglomerado multinacional conhecido pela sua atuação nos setores de assistência médica, energia e aeroespacial, fabricando de tudo, desde geladeiras até motores de aviões.

 

As informações roubadas por Zheng estavam relacionadas ao projeto e fabricação de turbinas a gás e vapor, incluindo pás e vedações de turbinas. Avaliadas em milhões, as informações foram enviadas para o seu cúmplice na China, onde seriam utilizadas para benefício do governo chinês, além de companhias e universidades localizadas na China.

Zheng foi condenado a dois anos de prisão no início de janeiro. É o mais recente de uma série de casos similares investigados pelas autoridades americanas. Na declaração do Departamento de Justiça sobre Zheng, Alan Kohler Jr., do FBI, afirmou que a China tinha como alvo a "criatividade americana" e estava tentando "derrubar nossa posição" de líder mundial.

 

Zheng era engenheiro especializado em tecnologia de vedação de turbinas. Ele trabalhava com diversas tecnologias de contenção de vazamentos na engenharia de turbinas a vapor. Essas vedações otimizam o desempenho das turbinas, "seja aumentando a potência ou a eficiência, ou ampliando a vida útil do motor", segundo o Departamento de Justiça. As turbinas que alimentam aeronaves são fundamentais para o desenvolvimento da indústria da aviação chinesa.

 

Os equipamentos de aviação e aeroespaciais estão entre os 10 setores que as autoridades da China pretendem desenvolver rapidamente para reduzir a dependência chinesa da tecnologia estrangeira até, um dia, eliminá-la. Mas a espionagem industrial da China também está voltada para diversos outros setores.

 

O interesse chinês também inclui produtos farmacêuticos e a bioengenharia — a imitação de processos biológicos para fins como o desenvolvimento de próteses biocompatíveis e o crescimento de tecidos regenerativos.

 

Wang mencionou um episódio sobre um antigo chefe de pesquisa e desenvolvimento de uma das 100 maiores empresas da revista Fortune, que contou a ele que acabou descobrindo que "a pessoa em quem ele mais confiava" — alguém tão próximo que seus filhos cresceram juntos — estava na folha de pagamento do Partido Comunista Chinês.

 

No passado, a espionagem industrial de países como o Japão, a Coreia do Sul, Taiwan e Singapura era preocupante. Mas, quando as empresas locais se tornaram líderes de mercado inovadoras por seus próprios méritos — e começaram a proteger sua própria propriedade intelectual —, seus governos passaram a aprovar leis para levar a questão mais a sério.

 

A China também conseguiu conhecimentos fazendo com que empresas estrangeiras fornecessem tecnologia com base em contratos de joint venture, em troca de acesso ao mercado chinês. E, apesar das queixas, o governo chinês sempre negou as acusações de coerção.

Em 2015, os Estados Unidos e a China chegaram a um acordo em que os dois lados prometeram não realizar "roubo de propriedade intelectual por meios cibernéticos, incluindo segredos comerciais ou outras informações confidenciais, para obter vantagens comerciais."

 

No ano seguinte, a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos já acusava os chineses de violar o acordo, embora reconhecesse que a quantidade de tentativas de invadir dados empresariais ou governamentais havia caído "dramaticamente". Mas observadores afirmam que o impacto geral do acordo foi mínimo. Wang afirma que o acordo foi uma "piada" e não foi cumprido. A espionagem cibernética chinesa nos Estados Unidos tem sido "generalizada", estendendo-se até os laboratórios acadêmicos.

 

Enquanto isso, os Estados Unidos estão tentando bloquear diretamente o progresso chinês no importante setor de semicondutores, que é fundamental para tudo, desde smartphones até armas de guerra. Washington afirma que o uso dessa tecnologia pela China representa uma ameaça à segurança nacional.

 

Em outubro de 2022, os Estados Unidos anunciaram alguns dos controles de exportação mais abrangentes já impostos até hoje. Esses controles exigem licenças para as empresas que exportarem chips para a China usando ferramentas ou software dos Estados Unidos, independentemente do lugar do mundo onde os chips forem fabricados.

 

As medidas de Washington também proíbem que cidadãos americanos e portadores dos chamados green cards trabalhem para certos fabricantes chineses de chips. Os green cards concedem aos seus portadores residência permanente nos Estados Unidos e o direito de trabalhar no país.

 

Com a China também invocando sua própria segurança nacional, a corrida pela liderança tecnológica entre as duas maiores economias do mundo provavelmente só se intensificará ainda mais.

Fonte: BBC News

Link: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-64336494