Empresas se preparam para nova onda de consumo popular

Expectativas esbarram em obstáculos a serem superados para o consumo das classes C, D e E deslanchar, como inflação e juros altos

Empresas se preparam para nova onda de consumo popular
Empresas desenham produtos para o bolso dos brasileiros das classes C, D e E. - Foto: Amanda Perobelli/REUTERS

Fogão por R$ 600, sapatilha de R$ 49,90, exame de sangue a R$ 6,50, detergente abaixo de R$ 2. Da indústria a prestadores de serviços, empresas começaram a desenhar produtos adequados para o bolso dos brasileiros das classes C, D e E na expectativa do retorno do consumo popular.

 

As companhias admitem que há obstáculos a serem superados para o consumo popular deslanchar, como inflação e juros altos. No entanto, enxergam vários motores a favor desse movimento. O reajuste real do salário mínimo e a manutenção de R$ 600 para o Bolsa Família devem injetar mais recursos na economia.

 

O governo também já informou que deve lançar o "Desenrola", um programa para a renegociação da dívida das famílias, e pode acabar com o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para eletrodomésticos. Esses produtos também estão próximos de esgotar um ciclo de vida útil, iniciado há dez anos.

 

Líder na fabricação de fogões populares, a Esmaltec já lançou modelos de eletrodomésticos mais acessíveis ao consumidor, trocando fornecedores de aço e substituindo matérias-primas e peças. Com isso, a companhia conseguiu manter os preços dos fogões e das geladeiras de entrada — as mais baratas — na faixa de R$ 600 e R$ 1.100, respectivamente. Parte dos novos produtos já está no mercado desde dezembro, conta o CEO da empresa, Marcelo Pinto.

A fabricante, do Grupo Edson Queiroz, avalia também a possibilidade de produzir tanquinhos. Esse eletrodoméstico foi, no passado, um dos ícones da ascensão da classe C. "Se o governo acabar com o IPI para a linha branca, vai ser um impulso muito grande [à produção], principalmente para os produtos de entrada", afirma o executivo. Recentemente o ministro Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou a empresários que pretende acabar com esse tributo por meio da reforma tributária.

No setor de calçados, a Beira Rio acredita num aumento do consumo da classe C. Com 12 fábricas no Rio Grande do Sul, a calçadista foca a produção das sapatilhas da marca Moleca — cujo modelo de entrada custa R$ 49,90, em média — e das sandálias mais baixas. "Estamos preparando os produtos para atender à demanda desse mercado", afirma Roberto Argenta, presidente da Calçados Beira Rio.

Até tradicionais prestadores de serviços já desenharam produtos para a classe de menor renda. O Grupo Fleury, por exemplo, um dos gigantes do setor de saúde, inaugurou no ano passado laboratórios de análises clínicas voltados para essa faixa da população. "O atendimento das classes C, D e E foi uma das avenidas priorizadas (pela companhia)", afirma a diretora-executiva de Negócios, Patrícia Maeda.

 

Nas suas contas, o potencial de mercado de diagnóstico de análises clínicas no País para as camadas populares é de R$ 20 bilhões por ano. A expectativa do grupo é, em cinco anos, abocanhar pelo menos entre 10% e 15% desse mercado no Rio e São Paulo.

Para Flávio Calife, economista da Boa Vista, a inadimplência, o endividamento, os juros e a demanda por crédito, neste momento, não estão em níveis propícios ao avanço do consumo popular no curto prazo. A inadimplência do consumidor encerrou o ano passado com avanço de quase 20%, segundo o indicador do birô de crédito, e segue com tendência de alta. Mas ele pondera que há fatores exógenos que podem ter impacto no consumo, como o "Desenrola". "Se o programa acontecer, poderá dar algum tipo de estímulo ao consumo", afirma.

Fonte: R7
Link: https://noticias.r7.com/economia/empresas-se-preparam-para-nova-onda-de-consumo-popular-30012023