Lula muda o tom e condena invasão da Ucrânia após cobranças dos EUA e da Europa

Presidente brasileiro deu nova declaração depois de ser criticado por governo norte-americano de estar repetindo conteúdo de propaganda russa

Lula muda o tom e condena invasão da Ucrânia após cobranças dos EUA e da Europa
Convite para Lula viajar à Ucrânia ocorre dias depois do presidente afirmar que há uma responsabilidade compartilhada pela guerra. - Foto: Andre Borges/EFE

Ainda sem citar nominalmente a Rússia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira, dia 18, que o Brasil "condena" violação territorial da Ucrânia. Lula sofreu forte pressão e cobrança internacional, nos Estados Unidos e na Europa, para que se posicione explicitamente sobre a guerra e aumente o tom contra Moscou.

"Ao mesmo tempo em que meu governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política negociada para o conflito", afirmou Lula nesta terça-feira, 18.

A declaração foi dada por Lula durante um almoço no Itamaraty com o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, país vizinho à Ucrânia que sofre diretamente as consequências humanitárias e econômicas da guerra de agressão unilateral, deflagrada em 24 de fevereiro de 2022 por Vladimir Putin. A fronteira entre os países no Leste Europeu tem cerca de 600 quilômetros. Até mesmo cidadãos brasileiros que viviam na Ucrânia escaparam da guerra por meio de gestões consulares e diplomáticas com auxílio da Romênia.

 

Nesta terça, Lula mudou o tom e falou de forma mais protocolar, lendo um discurso previamente escrito. O texto foi elaborado pela assessoria de Lula no Palácio do Planalto, diante da sensibilidade do momento. O presidente percebeu a ampla reação negativa no exterior.

 

Lula se disse preocupado com as consequências globais do enfrentamento, como a escassez energética e de alimentos. Ele afirmou ser urgente criar um grupo de países que levem à mesa Rússia e Ucrânia para selar a paz, mas não deu tanta ênfase à proposta como antes. Foi o último tópico de seu discurso.

 

Nos últimos dias, as declarações de Lula em entrevistas foram duramente criticadas por democracias ocidentais, durante sua passagem pela China e pelos Emirados Árabes. O Itamaraty avalia que foram ruídos retóricos, que podem ocorrer, mas foram pontos fora da curva na trajetória brasileira até agora ao tratar da guerra, mas não comprometem a proposta brasileira, nem provocarão isolamento.

 

O presidente apontou uma ideia de equivalência de responsabilidades sobre a guerra entre Volodimir Zelenski e Vladimir Putin e o que considera ser um incentivo à continuidade do enfrentamento militar, por parte dos EUA e da União Europeia, que enviaram armamentos para defesa ucraniana.

 

Washington e Bruxelas reagiram e disseram que Lula repetia propaganda favorável aos russos e fragilizara sua condição de mediador ao adotar um discurso que tem lado. O governo Joe Biden espera explicações do Itamaraty e do Palácio do Planalto. Sobretudo depois de Lula receber com distinção em Brasília o chanceler russo, Sergei Lavrov, enviado por Vladimir Putin. Na ocasião, Lavrov afirmou, sem ter ser contestado pela diplomacia brasileira, que Brasil e Rússia partilham da mesma visão sobre o conflito bélico.

 

Ao longo do discurso, Lula reafirmou sua disposição em ver o acordo comercial UE-Mercosul aprovado e citou a possibilidade de o Brasil ampliar o fluxo de comércio e investimentos com a Romênia em áreas como defesa e agricultura, com a participação da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

 

A guerra foi um dos temas mais abordados por Lula e pela imprensa internacional durante a viagem do petista à Ásia, na semana passada. No final da visita, já em Abu Dhabi, o presidente afirmou que a responsabilidade pela invasão russa na Ucrânia é tanto de Moscou quanto de Kiev. "A decisão da guerra foi tomada por dois países", disse em entrevista coletiva antes de deixar os Emirados Árabes.

Autor: Terra

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